quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Cordilheira dos Andes


Depois de trabalhar nas informações para postar aqui no blog, cheguei a uma conclusão de algo que eu já vinha desconfiando há algum tempo: as informações estão disponíveis aos montes na internet, mas em regra, são ruins. É fácil achar informação, mas é difícil selecionar informações precisas, verdadeiras e sólidas.

Tive que "apelar" para buscas em artigos científicos de Professores e Pesquisadores que publicam em revistas renomadas e reconhecidas no mundo acadêmico. Confesso que não sei se conseguirei manter o padrão de alto nível de informação para todos os assuntos que pretendo um dia abordar aqui no blog.

Depois desse "desabafo", vamos ao que interessa: a Cordilheira dos Andes!!!


A CORDILHEIRA DOS ANDES

A Cordilheira dos Andes é o típico exemplo de zona de subducção do tipo andina caracterizada pela subducção de uma placa oceânica sob uma placa continental culminando no soerguimento de uma cordilheira sem uma colisão continental.Localizada ao longo da margem pacífica da América do Sul, a cordilheira se estende por cerca de 8.000km desde a Venezuela até a Terra do Fogo, passando pela Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Chile e a Argentina É considerada a maior cadeia de montanhas do mundo em extensão.

Como qualquer outra cadeia de montanhas, os Andes foram soerguidos por um complexo Sistema Orogênico, ou talvez até melhor dizendo, por um complexo conceito chamado orogênese. Orogênese (do gregoOros, montanha; e genesis, formação) é o conjunto de processos que levam à formação de montanhas ou cadeias de montanhas produzido principalmente pelo diastrofismo (dobramentos, falhas ou a combinação dos dois aquilo que chamei na publicação anterior de "conjunto de eventos que fazem a montanha crescer para cima"), ou seja, pela deformação compressiva da litosfera continental.

Dessa forma, podemos considerar que a evolução dos Andes se iniciou no Jurássico, concomitantemente com o sistema de arco  (os vulcões dos Andes que enfileirados formam um arco) que se desenvolveu acima da placa subductada ao longo da margem oeste da América do Sul, durante e depois da quebra do Supercontinente Pangea no Mesozóico. A Cadeia Andina foi formada por um complexo Sistema Orogênico que envolve a subducção da crosta oceânica da placa de Nazca sob a Placa Sulamericana, além de outros processos geológicos como colisão, acreção, erosão, extensão, sedimentação, magmatismo e metamorfismo.

A Cordilheira dos Andes é um fantástico complexo de montanhas único no mundo, este complexo inclui os vulcões ativos mais altos do mundo (> 6.800m), os picos mais elevados com a exceção dos picos do Himalaia (> 7.000m), o segundo maior platô (ou planalto) em altura  e área (sendo o maior o do Tibet), o mais importante platô vulcânico com caldeiras terciárias de Ignibritos (rochas novas que surgiram com o desenvolvimento da cadeia de montanhas) em meio a crosta continental encurtada (aquele monte de rochas antigas que foram apertadinhas e "cresceram para cima"), bacias foreland profundas e enormes e preciosos depósitos de metais como Cobre (Cu), Ouro (Au) e Prata (Ag), além de possuir depósitos de óleo.

ETIMOLOGIA

(Fonte: http://etimologias.dechile.net/?Andes)

Existem diversas teorias para a a origem da palavra "Andes", sendo a mais provável a que afirma que derivou da palavra "quechua" do idioma dos Incas que significava  "el hablar del valle". Segundo "Los Comentarios reales de los Incas" (1609) escritos por Inca Garcilaso de la Vega (1539-1616): 

"Os reis Incas dividiram seu império em quatro partes: Tihuantin-Suyu que significa "as quatro parte do mundo", conforme as quatro partes principais do céu: oriente (leste), poente (oeste), setentrional (norte) e meridional (sul). Eles denominaram a parte do oriente "Antisuyu" de uma província chamada "Anti", depois, passaram a denominar de"Anti" toda aquela cordilheira de serra nevada que passa no oriente do Peru."

A mudança de "Anti" par ao castelhano "Andes" se explica pois em quechua não se usa o som expressado pela consoante "d", mas em castelhano sim. Segundo o Dicionário Bilingues Quechua-Castellano de Teofilo Laime Ajacopa y del Gobierno Regional del Cusco, Anti significa oriente, ou seja, ponto cardeal onde o sol nasce (para nós, tipicamente, leste).



MORFOLOGIA

Classicamente, a Cordilheira dos Andes foi dividida segundo a sua morfologia pelo Geólogo Augusto Gansser (1973) em Andes Setentrional (norte), Andes Central e Andes Meridional (sul). Os critérios utilizados nesta divisão foram: fisiográficos, litológicos, estruturais, tectônicos, vulcanológicos e sísmicos.


  1. Andes Setentrional: localizado ao norte do Golfo de Guayquil, na porção norte da cordilheira, inclui áreas do Equador, Venezuela e Colômbia.
  2. Andes Central: área limitada ao norte pelo Golfo de Guayquil (4ºS) e ao sul pelo Golfo de Penas (46º30'S), inclui área do Peru, Bolívia, Chile e Argentina.
  3. Andes Austral: localizado ao sul do Golfo de Penas, ao sul da cordilheira, inclui os denominados Andes Patagônicos e os Andes Fueguinos.

Figura 1: Compartimentação da Cordilheira dos Andes: NVZ - Zona Vulcânica Setentrional; CVZ - Zona Vulcânica Central e SVZ- Zona Vulcânica austral. Nos setores que não há atividade vulcânica a Placa da Nazca é superficialmente subductada, por isso não chega a formar magmas para formar atividade vulcânica (Seyfried et al., 1998).


Com o avanço dos estudos, novas classificações para a cordilheira foram surgindo. Atualmente, uma das mais utilizadas, considera a morfologia e geologia e apresenta fortes influências da idade, geometria e morfologia da subducção da placa oceânica, mantendo a classificação clássica das três zonas vulcânicas, conforme o mapa acima. Essa nova classificação, considera a divisão anterior, mas acrescenta subdivisões: Andes do Norte, Andes Central Norte, Andes Central Sul, Andes Patagônicos e Andes do Sul, como ilustra o mapa a seguir:

Figura 2: Divisão moderna da Cordilheira dos Andes: Andes do Norte, Andes Central Norte, Andes Central Sul e Andes do Sul. (Kay et. al, 2005)

Então, a nova classificação mantém a ideia do limite norte dos Andes Central, mas trás o seu limite sul para a altura do 33ºS e subdivide a porção sul em Andes Patagônico e Andes do Sul.


ANDES SETENTRIONAL

Na fronteira da Colômbia e Equador os Andes constituem uma única cordilheira com picos vulcânicos de até 5.000m, mais ao norte (+/- na latitude 1ºN), a cordilheira se divide em duas: ocidental (western Cordilleira) e central (Central Cordillera). Ainda mais ao Norte (+/- na altitude 2,5ºN), a Cordilheira Central se ramifica, originando a Cordilheira oriental (Eastern Cordilllera) que se subdivide em Cordilheira de Mérida e Serra de Perijá, conforme ilustra a figura 3 abaixo.

Tentei usar o esquema de cores para ajudar a ligar "cara/pessoa", no texto com a figura em baixo.. espero que tenha ajudado. Minha dica é leia com calma e busque a informação escrita no texto na figura, assim ficará muito mais claro.

A cordilheira Central é separada da Ocidental por uma falha geológica ocupada pelo Rio Patia ao sul e pelo Rio Cauca ao norte. A Cordilheira Oriental gradualmente se separa criando a bacia do rio mais importante da Colômbia, Rio Magdalena. Esta cordilheira se estende para o norte e se subdivide em dois braços: a porção oriental que no território venezuelano adquire o nome de Cordilheira de Mérida e o braço ocidental, chamado Serra de Perijá. 



Figura 3: Mapa adaptado do mapa topográfico disponível em EyesColombia.







Então, se fosse possível "recortar" a Cordilheira Setentrional e visualizá-la lateralmente ficaria mais ou menos assim:

Resultado de imagem para andes central oriental
Figura 4: Perfil topográfico da Cordilheira dos Andes Norte, disponível em: EyesColombia.



As cidades mais importantes localizadas nos Andes Sententrionais são Bogotá, Cali e Medellin na Colômbia; Quito e Riobamba no Equadro; e São Cristóvão e Mérida na Venezuela.



ANDES CENTRAL


Os Andes Central incluí áreas do Peru, Bolívia, Chile e Argentina, é considerada a porção com maior conhecimento dos andes e pode ser dividido em: Placa-Peruvian ao norte, Altiplano-Puna platô que inclui a zona central vulcânica (CVZ) e a Placa-Chelean ao sul, conforme a figura a seguir:


Figura 5: Compartimentação da Cordilheira dos Andes Central (Kay et al., 2005).


Com a exceção da Argentina, os países citados acima serão os nossos destinos em nossa planejada viagem, portanto, veremos esse tópico com um pouco mais de detalhes no(s) próximo(s) post(s).

As cidades nesta região: Cusco, La Paz, Uyuni, etc.

ANDES AUSTRAL


Região localizada no sul da América do sul, apresenta todos os tipos de clima e é subdividida em: Andes de transição e Andes do Sul. Essa porção da cordilheira apresenta diversas feições geológicas específicas, a saber: Southern Volcanic Zone (SVZ), Austral Volcanic Zone (AVZ) com adakitos miocenos, falhas normais invertidas mezozóicas e platôs de lavas neogenios. Cabe ressaltar que o vulcanismo ativo está ausente a leste. A SVZ é separada da AVZ pela Tríplice Junção do Chile na altura do Golfo de Penas.

Na latitude 33ºS, há uma planície litorânea, seguida pela Cordilheira da Costa que é separada da Cordilheira dos Andes (a oeste) pela denominada depressão intermediária. A medida que a cordilheira avança para o sul o relevo vai diminuindo devido a erosões glaciais, então, na latitude 54ºS a cordilheira diminui consideravelmente a altitude de seus picos, aparecem canais austrais de água e no extremo leste existe a denominada Planície Megallánica.


Figura 6: Perfis topográficos da Cordilheira dos Andes Sul em diferentes latitudes (33º, 41º e 54º sul), demonstrando a variação do relevo que diminui em direção ao sul.



Andes Patagônicos nada mais são do que a porção da Cordilheira dos Andes no extremo sul da América do Sul, ou seja, na região denominada Patagônia que inclui porções do território chileno e argentino. 

As cidades nesta região: Calama, San Pedro do Atacama, Santiago, Bariloche, Puerto Montt, etc.


CONSIDERAÇÕES FINAIS


Por fim, daqui pra frente falarei nos próximos posts sobre a Geologia da Zona Central (Lima e Cusco) e a Zona Centro-sul (parte do Peru, Bolívia e Chile). Tentarei focar nas unidades geológicas que existem em cada um dos pontos turísticos mais visitados destes locais. Começando, claro, pelos pontos que nós iremos passar!!! A viagem está quase chegando e eu me sinto muito atrasada nessas postagens. =O

A princípio a ideia é apresentar informações sobre esses locais, mas quem sabe no futuro não me empolgo e continuo adiante quando eu for pra Argentina... ou/e quando for pra Colömbia.. são dois destinos interessantes!






REFERÊNCIAS

  • http://etimologias.dechile.net/?Andes
  • https://eyesoncolombia.wordpress.com/2009/09/05/how-the-andes/
  • Gansser, A. 1973. Facts and theories on the Andes. Journal of the Geological Society of London, (129): 93-131.
  • Kay, S.M., Mpodozis, C., Ramos, V.A., 2005. Andes. Encyclopedia of Geology. Elsevier.  p. 118-131. (http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/B0123693969004111)
  • Seyfried, H., Worner, G., Uhlig, D., Kohler, I., Calvo, C., 1998. Introducción a la geología y morfologia de los andes en el norte del Chile. Universidad de Tarapacá, Arica - Chile, Chungara Volumen 30, nº 1: 7-39.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Geotectônica Simplificada da Cordilheira dos Andes

Confesso que até agora essa foi, de longe, a publicação de maior desafio. Dizer o que todo mundo já sabe é muito fácil e simples: "A Cordilheira dos Andes é uma cadeia de montanhas formada pela subducção da placa de Nazca sob a placa Sulamericana". Tá isso todo mundo já ouviu falar, mas o desafio aqui está em fazer você entender como, como é que uma placa entra de baixo de outra placa e do nada se cria uma cadeia de montanhas lá em cima?

Em geral, pouco nos importa sobre a placa de Nazca, mas quanto a placa Sulamericana importa bastante. É necessário compreender a ideia do que existia antes do início da subducção.

Vou me esforçar para usar palavras e exemplos para que você consiga entender a ideia da coisa, mas para isso já falo logo: geólogos, desculpem-me pelo linguajar.



PLACA SULAMERICANA ANTES DA SUBDUCÇÃO


Há muitos anos atrás, imagine que existia um continente na placa sulamericana. Esse continente era completamente diferente do que é hoje a América do Sul. Ele era algo mais parecido com o que hoje é o território brasileiro, entenda: uma porção de terra continental, formada por vários tipos de rocha diferentes, ou seja, rochas com várias formações e idades distintas, com relevo relativamente plano  (entenda relativamente plano como: NÃO existia uma gigantesca cadeira de montanhas como os Andes com picos de 6.000m, mas também não quer dizer que é um território absolutamente plano, existiam algumas serras de 1.000 e poucos metros de altitude).

O ponto aqui é entender que havia um grande continente formado por inúmeras rochas com contextos de formação e de idade diferentes entre si. Mas como isso é possível? Ora, lembre do Tempo Geológico! A Terra existe há mais de 2,5 BILHÕES de anos, desde então, rochas vem sendo formadas, continentes são criados, continentes são movidos para um lado e para o outro, rochas são  subductadas, às vezes, destruídas, rochas são apertadas umas contra as outras e, assim, rochas com diferentes idades e contextos são unidas num mesmo continente. Isso não é exclusividade da América do Sul, muito pelo contrário, todos os continentes do mundo são assim, compostos por rochas muito, muito antigas, rochas de idade intermediária e rochas recentes.

Não vou detalhar cada um dos tipos de rocha que existia nesse continente, só quero deixar claro que existiam muitas rochas diferentes umas das outras em uma grande massa de terra antes dos Andes existirem. Acredite, em algum momento lá na frente, quando começarmos a detalhar a geologia dos pontos turísticos, essa informação será útil.



INÍCIO DA SUBDUCÇÃO

Agora, tenta pensar em duas massas de terra enormes, ou melhor, gigantes indo uma em direção a outra, e tenta imaginar a força que isso tem. Difícil, né? Mas tenta. Pensa que depois de muito pressionar uma massa contra a outra, em algum momento os corpos físicos precisam ceder e ai sim, finalmente, acontece duas coisas: 1- a placa de Nazca começa a subductar; 2- a placa Sulamericana começa a quebrar e se "amontoar" em si mesma, ou seja, """crescer""" para cima - veja o vídeo abaixo.

Obervação: Lembre sempre do Tempo Geológico. Esqueça dias, esqueça meses e anos, estamos falando em milhares, em milhões de anos.



ELEVAÇÃO DA CADEIA DE MONTANHAS

Um vídeo fala mais do que mil palavras. Esse é um experimento de laboratório que mostra a compressão de uma massa de terra. Agora imagina isso ocorrendo lennnnnntamente (no decorrer do Tempo Geológico) e que ao invés de uma tábua de madeira empurrando da direita pra esquerda era, na verdade, uma outra grande porção de terra empurrando da esquerda pra direita (Placa da Nasca) contra a Placa Sulamericana em algum momento, finalmente, a placa Sulamericana começa a se quebrar e se "amontoar"  se elevando, ou seja, elevando a cadeia de montanhas.


Obs: Os Geólogos vão a loucura vendo com os próprios olhos a formação dos famosos "horses". haha..




GEOTECTÔNICA DE UM AMBIENTE CONVERGENTE

Sabendo de tudo isso, agora vamos ao ambiente tectônico típico de um ambiente convergente, como é o caso da Cordilheira do Andes. Veja a figura:


Em um dado momento (geológico, como sempre), este ambiente se formou e passamos a ter montanhas de rochas antigas ("amassadas") com depressões (essas regiões baixas na figura chamadas de "bacias") e outras coisas associadas. Nesse ambiente, foram formadas rochas (algumas de vulcões, inclusive) relativamente recentes, então, podemos afirmar que coexistem na cadeia de montanhas rochas bem mais antigas (que formavam a antiga placa sulamericana original) e rochas mais jovens (que "acabaram" de se formar com a elevação da cordilheira).

E como sabemos que há mesmo uma subducção? Pelo mapeamento dos hipocentros.

Importante aqui lembrar que hipocentro é diferente de epicentro, veja a figura explicativa.

Resultado de imagem para epicentro e hipocentro


Voltando, o mapeamento dos hipocentros mostra que os pontos de origem do terremotos estão cada vez mais profundos de leste para oeste. Esses pontos marcam o contato da Placa de Nasca com a Placa Sulamericana.

 (Aquele momento que eu paro e penso: "deveria ter feito um post sobre terremotos antes deste")







RESUMO "DA ÓPERA"



Existem basicamente duas coisas bem diferentes nesse contexto todo:

  1. Um conjunto de rochas antigas que formava a placa Sulamericana original;
  2. Rochas mais jovens que se formaram no início da elevação da cordilheira dos Andes e/ou depois da elevação;

Não vou entrar nos detalhes dos processos tectônicos, sedimentares, metamórfico e ígneos muito menos estruturais e geofísicos disso tudo. Não que não seja um tema incrível e fantástico, mas você precisaria de uns 5 anos de curso de geologia pra conseguir compreender tudo isso. Então, talvez, num futuro não tão distante (ou distante) eu faça uma outra publicação para geólogos lerem. É, definitivamente, seria bem produtivo e interessante, mas eu estou cansada só de imaginar. Imagina quem vai ler! hehe...

Espero que tenha ficado claro a ideia de como é que se formam verdadeiras montanhas.

Até a próxima!