quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Geotectônica Simplificada da Cordilheira dos Andes

Confesso que até agora essa foi, de longe, a publicação de maior desafio. Dizer o que todo mundo já sabe é muito fácil e simples: "A Cordilheira dos Andes é uma cadeia de montanhas formada pela subducção da placa de Nazca sob a placa Sulamericana". Tá isso todo mundo já ouviu falar, mas o desafio aqui está em fazer você entender como, como é que uma placa entra de baixo de outra placa e do nada se cria uma cadeia de montanhas lá em cima?

Em geral, pouco nos importa sobre a placa de Nazca, mas quanto a placa Sulamericana importa bastante. É necessário compreender a ideia do que existia antes do início da subducção.

Vou me esforçar para usar palavras e exemplos para que você consiga entender a ideia da coisa, mas para isso já falo logo: geólogos, desculpem-me pelo linguajar.



PLACA SULAMERICANA ANTES DA SUBDUCÇÃO


Há muitos anos atrás, imagine que existia um continente na placa sulamericana. Esse continente era completamente diferente do que é hoje a América do Sul. Ele era algo mais parecido com o que hoje é o território brasileiro, entenda: uma porção de terra continental, formada por vários tipos de rocha diferentes, ou seja, rochas com várias formações e idades distintas, com relevo relativamente plano  (entenda relativamente plano como: NÃO existia uma gigantesca cadeira de montanhas como os Andes com picos de 6.000m, mas também não quer dizer que é um território absolutamente plano, existiam algumas serras de 1.000 e poucos metros de altitude).

O ponto aqui é entender que havia um grande continente formado por inúmeras rochas com contextos de formação e de idade diferentes entre si. Mas como isso é possível? Ora, lembre do Tempo Geológico! A Terra existe há mais de 2,5 BILHÕES de anos, desde então, rochas vem sendo formadas, continentes são criados, continentes são movidos para um lado e para o outro, rochas são  subductadas, às vezes, destruídas, rochas são apertadas umas contra as outras e, assim, rochas com diferentes idades e contextos são unidas num mesmo continente. Isso não é exclusividade da América do Sul, muito pelo contrário, todos os continentes do mundo são assim, compostos por rochas muito, muito antigas, rochas de idade intermediária e rochas recentes.

Não vou detalhar cada um dos tipos de rocha que existia nesse continente, só quero deixar claro que existiam muitas rochas diferentes umas das outras em uma grande massa de terra antes dos Andes existirem. Acredite, em algum momento lá na frente, quando começarmos a detalhar a geologia dos pontos turísticos, essa informação será útil.



INÍCIO DA SUBDUCÇÃO

Agora, tenta pensar em duas massas de terra enormes, ou melhor, gigantes indo uma em direção a outra, e tenta imaginar a força que isso tem. Difícil, né? Mas tenta. Pensa que depois de muito pressionar uma massa contra a outra, em algum momento os corpos físicos precisam ceder e ai sim, finalmente, acontece duas coisas: 1- a placa de Nazca começa a subductar; 2- a placa Sulamericana começa a quebrar e se "amontoar" em si mesma, ou seja, """crescer""" para cima - veja o vídeo abaixo.

Obervação: Lembre sempre do Tempo Geológico. Esqueça dias, esqueça meses e anos, estamos falando em milhares, em milhões de anos.



ELEVAÇÃO DA CADEIA DE MONTANHAS

Um vídeo fala mais do que mil palavras. Esse é um experimento de laboratório que mostra a compressão de uma massa de terra. Agora imagina isso ocorrendo lennnnnntamente (no decorrer do Tempo Geológico) e que ao invés de uma tábua de madeira empurrando da direita pra esquerda era, na verdade, uma outra grande porção de terra empurrando da esquerda pra direita (Placa da Nasca) contra a Placa Sulamericana em algum momento, finalmente, a placa Sulamericana começa a se quebrar e se "amontoar"  se elevando, ou seja, elevando a cadeia de montanhas.


Obs: Os Geólogos vão a loucura vendo com os próprios olhos a formação dos famosos "horses". haha..




GEOTECTÔNICA DE UM AMBIENTE CONVERGENTE

Sabendo de tudo isso, agora vamos ao ambiente tectônico típico de um ambiente convergente, como é o caso da Cordilheira do Andes. Veja a figura:


Em um dado momento (geológico, como sempre), este ambiente se formou e passamos a ter montanhas de rochas antigas ("amassadas") com depressões (essas regiões baixas na figura chamadas de "bacias") e outras coisas associadas. Nesse ambiente, foram formadas rochas (algumas de vulcões, inclusive) relativamente recentes, então, podemos afirmar que coexistem na cadeia de montanhas rochas bem mais antigas (que formavam a antiga placa sulamericana original) e rochas mais jovens (que "acabaram" de se formar com a elevação da cordilheira).

E como sabemos que há mesmo uma subducção? Pelo mapeamento dos hipocentros.

Importante aqui lembrar que hipocentro é diferente de epicentro, veja a figura explicativa.

Resultado de imagem para epicentro e hipocentro


Voltando, o mapeamento dos hipocentros mostra que os pontos de origem do terremotos estão cada vez mais profundos de leste para oeste. Esses pontos marcam o contato da Placa de Nasca com a Placa Sulamericana.

 (Aquele momento que eu paro e penso: "deveria ter feito um post sobre terremotos antes deste")







RESUMO "DA ÓPERA"



Existem basicamente duas coisas bem diferentes nesse contexto todo:

  1. Um conjunto de rochas antigas que formava a placa Sulamericana original;
  2. Rochas mais jovens que se formaram no início da elevação da cordilheira dos Andes e/ou depois da elevação;

Não vou entrar nos detalhes dos processos tectônicos, sedimentares, metamórfico e ígneos muito menos estruturais e geofísicos disso tudo. Não que não seja um tema incrível e fantástico, mas você precisaria de uns 5 anos de curso de geologia pra conseguir compreender tudo isso. Então, talvez, num futuro não tão distante (ou distante) eu faça uma outra publicação para geólogos lerem. É, definitivamente, seria bem produtivo e interessante, mas eu estou cansada só de imaginar. Imagina quem vai ler! hehe...

Espero que tenha ficado claro a ideia de como é que se formam verdadeiras montanhas.

Até a próxima!


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