Era uma vez um lago gigante.. em meio a uma gigantesca cadeia de montanhas, mais precisamente, entre a Cordilheira Ocidental e Oriental, bem no Altiplano.
Há muito tempo atrás (uns 10.000 anos) esse lago ocupava uma área maior do que a área do lago Titicaca ocupa hoje. Aos poucos o clima do planeta passou por um período consideravelmente muito seco que durou cerca de 6.000 e o aporte de água que abastecia esse lago gigante foi diminuindo aos poucos. Assim, esse lago gigante se dividiu em três lagos: Uyuni, Coipasa e Poopo.
Com o passar do tempo, a porção sul do lago secou e formou o que hoje chamamos de Salar de Uyuni. A porção central também secou, mas ainda resta um pequeno laguinho na desembocadura do Rio Lauca no salar de Coipasa. Por fim, resta até hoje um lago na porção norte do antigo lago Lauca, onde hoje existe o denominado Lago Poopo.
Até hoje, o Salar de Uyuni fica completamente inundado durante a estação chuvosa (janeiro a março), mas permanece seco em quase toda a sua superfície durante o restante do ano (abril a dezembro). Defina bem o que você procura com a época do ano, pois a lamina d'água propicia uma vista única com o céu refletido nela, porém, com a água no chão os guias não adentram muito no salar, então, o passeio fica um tanto quanto restrito a algumas áreas específicas, ficando de fora a Isla del Pescado, por exemplo.
É importante citar que não é qualquer lago que seca e simplesmente forma um mar de sal como o Salar de Uyuni. Na verdade, o Salar de Uyuni é um depósito de sal único no mundo. Vários outros lagos já se formaram e se secaram, mas por que apenas em Uyuni se formou esse imenso salar? A explicação não é tão simples, na verdade, é uma mistura de diversos fatores, entre eles: profundidade do lago, conexão entre o lago Coipasa e Uyuni com diferença de apenas 1m (isso permitiu que, na verdade, a salinidade contida em Coipasa, aos poucos fosse se acumulando em Uyuni e assim, se formou a crosta de Uyuni tão profunda) e a deposição e dissolução de sais para concentração de Na e Cl para formação do montante final presente no salar de NaCl.
(Fontes, 1978 apud Risacher & Fritz, 1991).
Contexto Geológico Regional (não tão simplificado assim)
O Altiplano boliviano é uma bacia fechada de aproximadamente 200.000 km² , a uma altitude de 4000 m. É delimitada pela Cordilheira dos Andes no Oriente e no Ocidente.
A Cordilheira Oriental é caracterizada por sedimentos paleozóicos (Arenitos, folhelhos) e granítica s (Ahlfeld, 1972). As formações paleozóicas também constituem o subsolo do Altiplano. Eles são recobertos com um preenchimento de espessura de sedimentos continentais do Cretáceo e Terciário (arenitos, argilitos, mudstones, folhelhos e evaporitos). Durante o Paleo-Quaternário o oeste e o sul do Altiplano foram fortemente afetados por uma intensa atividade vulcânica.
A Cordilheira Ocidental é na sua maioria de origem vulcânica. Vulcões, fluxos de lava e ignimbritos geralmente sobrepõem as formações terciárias. As rochas vulcânicas variam de andesitos a riodacitos (Fernandez et al., 1973).
Atividade vulcânica no Altiplano começou no Mioceno (23 a 5Ma), aumentou durante o Plioceno (5 a 3Ma) e morreu afastado durante o Holoceno (0,01Ma) (Fernandez et al., 1973).
O baixo topográfico do Altiplano central é preenchido com duas crostas de sal: o Salar de Uyuni (10.000 km², 3,653 m), o que é o maior deserto de sal do mundo, e o Salar de Coipasa (2500 km², 3656 m).
Há cerca de 12.500-10.000 anos atrás, essas regiões eram preenchidas pelo paleolago Lauca que também envolvia a área atual do Lago Poopo. Aos poucos, o paleolago Lauca foi perdendo seu suprimento de água e foi secando, num primeiro momento houve o rompimento com o lago Poopo, restando a região atual de Uyuni e Coipasa ainda conectadas, posteriormente estas duas regiões também se separaram e por fim se secaram quase totalmente.
Uyuni ainda recebe água do Rio Grande ao sul, porém, o rio não tem capacidade de manter o salar com lamina d'água durante todo o ano. Assim, o Salar de Uyuni fica completamente inundado durante a estação chuvosa (janeiro a março) com uma lamina dã 'água de até 30cm, mas permanece seco em quase toda a sua superfície durante o restante do ano (abril a dezembro).
O Salar de Coipasa recebe água Lauca que ainda é capaz de manter um pequeno lago na sua desembocadura, formando pequenos depósitos lacustres e deltáicos atualmente.
O Lago Poopo ainda é um típico ambiente lacustre, mas não forma halita, provavelmente devido a elevada taxa de escorrimento da bacia.
Depósitos do Salar de Uyuni
Apesar de ser conhecido como Salar, o salar de uyuni não é composto exclusivamente de depósitos de sal. Ele possui muito sal (mais sal do que qualquer outro salar do mundo), mas também possui depósitos lacustres (sedimentos depositados da época que havia o lago) e depósitos flúvio-deltáicos (Delta é uma região triangular que se forma quando um rio desagua num corpo de água, assim, sedimentação fluvio-deltáica é composta por sedimentos depositados a época que havia o lago e se formaram na junção do rio - que abastecia o lago - com o lago).
Depósitos de Sal
Pesquisadores coletaram dados de campo em 40 furos em toda a crostado salar. A crosta de sal tem uma espessura máxima de 11m (apesar de outros artigos apresentar dados de até 15m).
Tá. Mas do que é composta a tão famosa crosta de sal? Por que tudo é tão branco? Bom, a crosta de sal é composta de camadas alternadas cerca de 10 cm de espessura de
halita sólida e agregados de cristais quebradiço. A composição mineralógica da crosta das amostras obtidas nos furos mostraram que a composição química do salar é de aproximadamente 90% de halita (NaCl) e 1-10% de
gispsita e de alguns outros materiais detríticos (pedaços de um monte de outros minerais).
Sedimentos lacustres
A crosta de sedimentos lacustres é formada por uma fina camada de sedimentos lacustres laminados compostos por material detrítico, micrita, gipsita, calcita, matéria orgânica e pequenas quantidades de argilominerais (esmectita e illita). Artemia fóssil e pelotas fecais são onipresentes. Elas são feitas de calcite e gesso e pode ser considerado como um bom critério para o reconhecimento de sedimentos lacustres.
Sedimentos flúvio-deltáicos
De longe, o maior afluxo permanente ao salar é o Rio Grande que construiu uma área de300km2 de delta que se encontra com a crosta de sal. O delta é uma sistema complexo de camadas de argila contendo sedimentos e lentes de areia. Os minerais de argila predominantes são esmectita e alguns de ilita e um pouco de caulinita. Como um todo, sedimentos deltaicos têm uma baixa porosidade e permeabilidade.
Calcita, gesso e ulexita (NaCaB, 09-8H20) são precipitados nos sedimentos deltáicos. Aqui é o maior depósito de borato na Bolívia. Ulexita tem uma média espessura de 0,1 m sobre uma área de 120 km2 e uma teor de água de 50%. As reservas totais de boro podem ser, grosseiramente, estimadas em cerca de 1.6 ~ toneladas.
Considerações Finais
A evaporação dos presentes fluxos não reflete a antiga composição de Paleolago Tauca. Uma possível composição da água do lago é dada em Tabela VI. A concentração de todos os componentes, exceto SO4 e Ca, são aqueles da dissolução salina derivada de solução, multiplicada por um fator de 1,22, a fim de representar uma perda provável de sais durante a dessecação e de obter uma paleosalinidade de 80 g/L. Conteúdos em SO4 e Ca foram aumentados em igualdade de quantidades molares, de modo para atingir a saturação em relação ao gesso.
( Risacher & Fritz, 1991).
O processo para que ocorra o forte enriquecimento em Na e Cl em relação à outra componentes no salar de Uyuni provável é que houve uma lixiviação de evaporitos antigos na área de influência em um estágio inicial de evolução da bacia (Pleistoceno). Uma vez que toda a halita foi lixiviada, o antigo lago, herdou sua peculiar química por redissolução da crosta de sal que foi depositado por seu antecessor. Assim, o Ssalar de Uyuni é o estágio final de uma longa história lacustrina de deposição, dissolução, redissolução e deposição. Então, o Paleolago Tauca foi dissolvido e depositado novamente uma crosta de sal de bastante semelhante composição.
Segundo Rouchy et. al (1993): há 90Ma mudanças na paleogeografia ocorreram nos Andes, durante o Cretácio até o terciário, a bacia teve diversas influência de lagos cuja variação de quantidade de água implica diretamente na saturação de sais, além disso, é sabido que as variações do nível da água dos lagos está diretamente relacionado à razão de evaporação/precipitação, assim como nos lagos tropicais do quaternário. Nesse contexto, lagos hipersalinos são formados nos tempos de seca, assim, são precipitados evaporitos subaquosos (brines) e argilas salinas. Durante os períodos mais úmidos há a formação de carbonatos com uma fauna diversificada típica de lagos.
REFERÊNCIAS
Risacher, F. & Fritz, B. Quarternary geochimical evolution of the salar of Uyuni and Coipasa, Central Altiplano, Bolivia. Elsevier Science Publishers, B. V, Amsterdam. Chimical Geology, 90 (1991) 211-231.
Rouchy , J. M., Camoin, G., Casanova, J. Deconick, J.F., 1993. The central palaeo-Andean basin of Bolivia (Potosi area) during the late Cretaceous and early Tertiary: reconstruction of ancient saline lakes using sedimentological, paleoecological and stable isotope records. Elsevier Science Publishers B.V., Amsterdam: 179-198